O próximo encontro ecumênico de reflexão, diálogo e oração pela paz e justiça no mundo, em Assis, neste 27 de outubro, terá como tema central a peregrinação. A celebração aos 25 anos da primeira edição convocada por João Paulo II foi apresentada nesta terça-feira na Santa Sé.
A peregrinação será simbolizada na procissão de 176 representantes de diversas religiões até a praça de São Francisco, e será o tema da oração que os participantes farão de maneira privada.
O encontro se intitula Peregrinos da verdade, peregrinos da paz e evitará cair no sincretismo.
“Uma das críticas à primeira reunião em Assis, convidada por João Paulo II, foi precisamente a proposição de sincretismo”, afirmou o presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson.
Para evitar este conceito errado no encontro, “quisemos respeitar a identidade de cada um dos participantes” e “cada um rezará do jeito que acredita”, precisou o purpurado.
Participação e solenidade
Além dos católicos, budistas, hinduístas, muçulmanos, xintoístas e outros representantes das diversas tradições religiosas, o encontro contará também com a participação de não crentes, por conta da iniciativa O Átrio dos Gentios.
Os muçulmanos terão uma presença maior que nos encontros anteriores, apesar do congelamento das relações com a universidade de Al-Azhar, do Cairo, após o requerimento do papa de proteção para os cristãos coptas que sofreram um atentado na noite de Natal.
Em Assis, os dirigentes das delegações receberão uma lâmpada que acenderão juntos na praça de São Francisco, no final do encontro.
O cardeal Turkson recordou a vontade de Bento XVI de “querer solenizar o 25º aniversário do histórico encontro de Assis em 27 de outubro de 1986, por vontade do beato João Paulo II”. O papa irá como “peregrino à cidade de São Francisco, convidando novamente a este caminho os cristãos de diversas confissões, os representantes das tradições religiosas do mundo e, de maneira ideal, todos os homens de boa vontade”.
Respostas comuns
“O objetivo da jornada, como disse o papa Bento XVI na Alemanha, durante o encontro com as comunidades muçulmanas em 23 de setembro, é mostrar que homens religiosos e de boa vontade desejam oferecer sua especial contribuição à construção de um mundo melhor, reconhecendo ao mesmo tempo a necessidade, para a eficácia da ação, de crescer no diálogo e na estima recíproca”, explicou o cardeal.
“Os desafios se encontram na crise econômica que dura mais do que o previsto, na crise das instituições democráticas e sociais, na crise de alimentos, na crise ambiental, nas migrações bíblicas, em formas mais sutis de colonialismo, nos contínuos flagelos da pobreza e da fome, no indômito terrorismo internacional, nas crescentes desigualdades e nas discriminações religiosas”.
Diante dos recentes acontecimentos do Egito e de outras regiões do mundo, “temos que dizer não a qualquer instrumentalização da religião”, afirmou o cardeal Turkson. “A violência entre religiões é um escândalo que deixa desnaturada a verdadeira identidade da religião, cobre o rosto de Deus e afasta da fé”.
“A busca da verdade é premissa para nos conhecermos melhor, vencermos toda forma de preconceito, mas também de sincretismo, que ofusca a identidade”.
E prosseguiu: “Participar todos de um caminho comum de busca da verdade significa reconhecer a própria especificidade naquilo que nos torna iguais -todos somos capazes da verdade- e diferentes ao mesmo tempo”.
“A busca da verdade é condição para abater o fanatismo e o fundamentalismo, para os quais a paz se consegue com a imposição das próprias convicções aos outros” e “condição para superar a babel das línguas e esse laicismo que tenta marginalizar da família humana Aquele que é o Princípio e o Fim”.
Programa
“Logo após a chegada a Assis, iremos à basílica de Santa Maria dos Anjos, onde recordaremos os encontros anteriores e aprofundaremos no tema da jornada”, explicou o cardeal.
O papa e representantes de algumas delegações presentes se pronunciarão nesse momento.
“Seguirá uma refeição leve, compartilhada pelos delegados: uma mostra da sobriedade, que tenta expressar o encontro em fraternidade e, ao mesmo tempo, a participação nos sofrimentos de tantos homens e mulheres que não conhecem a paz. Depois haverá um tempo de silêncio para a reflexão pessoal e para a oração”.
À tarde, todos os presentes em Assis participarão numa procissão que se dirigirá à basílica de São Francisco. Será uma peregrinação em silêncio em que participarão também os membros das delegações. Com ela, “tentamos simbolizar o caminho de todo ser humano na busca assídua da verdade e na construção efetiva da justiça e da paz”.
Na entrevista coletiva, participaram ainda o secretário do Conselho Pontifício Justiça e Paz, Dom Mário Toso; o secretário do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso, Dom Pier Luigi Celata, e o encarregado da Seção Oriental do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Andrea Palmieri.
Estavam presentes também o subsecretário do Conselho Pontifício da Cultura, Dom Melchor José Sánchez de Toca y Alameda, e o diretor do Átrio dos Gentios, do Conselho Pontifício da Cultura, padre Jean-Marie Laurent Mazas.
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