BRUXELAS, – No dia 21 de outubro, um interessante colóquio no Parlamento Europeu abordou “a fragilidade humana na sociedade europeia contemporânea”. Organizado pela Federação Europeia de Associações Médicas Católicas, o tema foi tratado não só do ponto de vista médico, mas também filosófico, econômico, social e antropológico.
O encontro apresentou um painel de oradores renomados e um auditório atento, segundo a agência belga catho.be.
O tema é de interesse na atual crise da Europa. Evocar a fragilidade do homem pode ser um modo de mudar de direção num mundo que só fala de prazeres, segurança e sucesso pessoal. E na onda da crise, que evidencia a fragilidade do atual sistema bancário do velho continente, o tema tem especial ressonância.
Médicos, economistas, filósofos e religiosos se sucederam na tribuna para fazer constatações que impressionaram os presentes. “Reconhecemos as fragilidades econômicas e financeiras. Nunca a fragilidade humana”, disse o doutor Xerri, primeiro e último expoente. “O mundo moderno vive com o ressentimento de ter nascido”, completou pouco mais tarde Dom Ide, citando Hannah Arendt.
Na mesma linha, Dominique Lambert, professor de filosofia em Nôtre-Dame de Namur, falou de um homem “que parece cansado de ser humano”. Pior ainda: existiria, segundo o doutor Bernard Ars, um “risco de deriva eugênica de uma medicina que já não estaria interessada nas fragilidades”. “A consciência da fragilidade pode ser libertadora”, acrescentou.
Apesar do panorama, o colóquio não deixou um gosto pessimista. Insistiu na fé no homem, fé no poder dos frágeis. O dos recém-nascidos é o mais evidente, recordou o professor Le Pichon, numa intervenção que foi a mais comovente (com os “instantes frágeis” de Régis Defurnaux, um testemunho sobre cuidados paliativos no Lar São Francisco de Namur).
Especialista em geodinâmica, o professor Xavier Le Pichon sublinhou a importância das fraquezas e das imperfeições em qualquer sistema vivo e mesmo na tectônica de placas, assunto em que é especialista mundial. O autor de Aux racines de l’homme destacouque uma sociedade é humana quando se ocupa dos que sofrem.
A este respeito, foi rememorado o histórico descobrimento da tumba de Shanidar, que permite aos paleoantropólogos afirmar que os neandertais, até agora considerados como pré-humanos, cuidavam dos seus feridos e por isto se tornavam humanos.
“É o encontro com o homem que sofre o que constitui a humanidade”, explicou o professor do Colégio de França, “e o homem não para de reinventar a sua humanidade ao ter que encarar as fragilidades”.
Pierre Granier, autor da crônica do evento, a encerra com uma pergunta candente: “Vamos nos atrever a dilapidar uma herança de ao menos sessenta mil anos?”.
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