terça-feira, 18 de outubro de 2011

L'OSSERVATORE ROMANO


Apelo de Bento XVI no final da audiência geral

Coexistência pacífica no Egipto


Entristecido pelos episódios de violência que se verificaram no dia 9 de Outubro, no Egipto, o Papa expressou participação no sofrimento pelas vítimas e dirigiu um apelo para que seja salvaguardada a coexistência pacífica no respeito das minorias.Na catequese, que publicamos na página 3, o Papa explicou o Salmo 126.

Sinto-me profundamente entristecido pelos episódios de violência que se verificaram no Cairo no domingo passado. Uno-me ao sofrimento das famílias das vítimas e de todo o povo egípcio, dilacerado pelas tentativas de insidiar a coexistência pacífica entre as suas comunidades, que ao contrário é essencial salvaguardar, sobretudo neste momento de transição. Exorto os fiéis a rezar para que aquela sociedade goze de uma paz verdadeira, baseada na justiça, no respeito da liberdade e da dignidade de cada cidadão. Além disso, apoio os esforços das autoridades egípcias, civis e religiosas, a favor de uma sociedade na qual sejam respeitados os direitos humanos de todos e, em particular, das minorias, em benefício da unidade nacional.

Os sinais da terra sísmica



CARLO DI CICCO
O frio, a lama, o cansaço não conseguiram apagar a luz dos sinais contidos nas onze horas transcorridas por Bento XVI na Calábria. O Papa foi esperado de manhã em Lamezia Terme, à tarde na Serra San Bruno e na célebre cartuxa. Ao povo de Lamezia, a braços com uma difícil luta quotidiana pelo resgate social, como quase toda a região do Sul, a sua breve passagem pareceu já em si um sinal desejado para voltar a ter confiança. Na Serra, onde são Bruno, originário da Alemanha, deixou uma marca indelével, o encontro do Papa conterrâneo do santo monge serviu de estímulo e renovada determinação para sair da grave crise de emprego sobretudo juvenil. Bento XVI pôs-se em sintonia com o povo que o aguardava desde o alvorecer depois de uma noite de chuva torrencial e pronunciou palavras claras dirigidas a todos os habitantes da Calábria, "uma terra sísmica - assim a definiu - não só sob o ponto de vista geológico, mas também estrutural, comportamental e social". Da emergência do desemprego e da criminalidade "muitas vezes cruel", sai-se unicamente juntos, de modo solidário, crescendo na capacidade de colaborar, de ocupar-se do próximo e de todos os bens públicos. Em particular aos católicos, recordou a necessidade de um trabalho pastoral "moderno e orgânico", na unidade de todas as forças cristãs em volta do bispo, difundindo a prática da Lectio divina e divulgando o conhecimento da doutrina social. Destas duas iniciativas o Papa espera o nascimento de "uma nova geração de homens e mulheres capazes de promover não tanto interesses privados, mas o bem comum". A etapa em Lamezia não foi para o Pontífice uma pausa no seu peregrinar rumo à cartuxa, lugar simbólico que encerra o segredo para a solução dos problemas humanos. De facto, chegou ali sem descuidar alguma das perguntas das pessoas que encontrou. Levou-as consigo alargando o horizonte para entrever melhor pelo menos uma solução para os problemas do território. O desejo constante em Bento XVI de permanecer ligado ao carisma da vida contemplativa nasce da convicção de que o mosteiro não esgotou a sua função de beneficiador. Só mudou o contexto. Em vez de pântanos, hoje os mosteiros servem para beneficiar um clima que se respira nas nossas sociedades, "poluído por uma mentalidade que não é cristã e nem sequer humana". De facto, permanecem modelo "de uma sociedade que coloca no centro Deus e a relação fraterna". Foi interessante o diálogo que se estabeleceu entre o Papa e o prior da cartuxa durante a celebração das vésperas. Um intercâmbio singular e profundo sobre o amor de Deus que se torna universal, talvez um dos momentos simbólicos, na sua simplicidade despojada, do pontificado de Bento XVI.
O prior expressou a consciência humilde de si que os monges cultivam, certos de que ocupam um lugar secundário na Igreja e depois falou da vida monástica como experiência de amor que abraça o mundo inteiro, da solidão que se abre a uma comunhão universal. O Papa respondeu dirigindo-se aos monges mas com a intenção de falar a toda a Igreja, ressaltando o "vínculo profundo que existe entre Pedro e Bruno, entre o serviço pastoral à unidade da Igreja e a vocação contemplativa na Igreja". Eles, "agarrados" pelo amor a Deus, testemunhas do essencial, ajudam a Igreja e o mundo a reencontrar a própria alma, estimulam as cidades dos homens a libertar-se do ruído e do vazio espiritual para voltar a experimentar "a Realidade mais real que existe". Por isso, um pouco de espírito claustral nunca é prejudicial.

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