GIOVANNI MARIA VIAN Aos jornalistas em voo rumo a Berlim o Papa tinha anunciado a finalidade do seu terceiro regresso à pátria desde quando foi eleito sucessor do apóstolo Pedro: encontrar o povo e falar de Deus. E foi assim, numa das viagens mais intensas e importantes do pontificado, durante a qual Bento XVI, falando precisamente de Deus, soube fazer-se compreender e comoveu o coração de muitíssimas pessoas, não só católicas. Afastando estereótipos que há dezenas de anos lhe foram atribuídos e confirmando-se homem de fé transparente e profunda, intelectual de primeiríssima ordem que possui o dom de gestos e palavras que todos podem compreender.
Por conseguinte, uma visita bem sucedida, graças também a uma hospitalidade cordial e à impecável organização garantida pelas instituições civis e pela Igreja, em cada um dos seus momentos. Antes de tudo nos encontros com muitas dezenas de milhares de católicos nas diversas etapas do itinerário, concluído liturgicamente diante de mais de cem mil fiéis na missa de Friburgo, uma celebração inundada de sol durante a qual sumptuosas músicas do barroco alemão se alternaram com ditosas composições contemporâneas. E importantes foram os encontros com representantes das Igrejas orientais ortodoxas, com os evangélicos, os muçulmanos, os judeus. De facto, não houve nada dedutível ou previsível nos discursos papais, mesmo se depois, sobretudo na Itália, alguns meios de comunicação, até prestigiosos, não se demonstraram à altura da viagem, preferindo correr atrás de notícias deveras marginais (ou até inexistentes) sem prestar contas dos factos, mesmo que fosse de modo crítico. Não obstante Bento XVI tenha proposto aos evangélicos para voltar juntos à "causa de Cristo". Com um elogio de Lutero, uma análise franca do protestantismo contemporâneo e com o pedido, certamente não diplomático mas exigente, de um testemunho cristão comum num mundo que se afasta cada vez mais de Deus.
E o Papa de Roma repetiu a orientais e ortodoxos a sua proximidade, alegrando-se pelo diálogo na ortodoxia, voltando à questão crucial da primazia do sucessor de Pedro, reafirmando a esperança numa união não distante.
E se Bento XVI no discurso ao Bundestag - uma contribuição para o debate público dirigido ao mundo ocidental na sua totalidade - levantou mais uma vez a questão dos fundamentos da política, falando aos católicos o Papa encontrou palavras que pedem um exame de consciência colectivo, não só na Alemanha. Num ocidente rico materialmente mas cada vez mais pobre e desorientado devido à difusão de um relativismo subliminar que arrasa, também na Igreja o excesso das estruturas corre de facto o risco de sufocar a fé, precisamente enquanto a desertificação espiritual progride e não são captados os efeitos purificadores da secularização.
Então, como mudar? À maneira dos santos, isto é, na conversão de cada dia a Cristo, não obstante as quedas e os escândalos que arriscam encobrir o escândalo da cruz. Por isso os cristãos tíbios prejudicam mais a Igreja do que os seus adversários, por isto os agnósticos e quantos sofrem pelos pecados dos cristãos estão mais próximos do reino de Deus que os fiéis de rotina. Como na parábola dos dois filhos aos quais o pai pede que trabalhem na vinha, contam mais os factos do que as palavras. De facto, só os comportamentos podem aproximar o terceiro filho que responde misteriosamente ao Pai: o seu unigénito Jesus, o único Senhor, que veio ao mundo para o salvar.
(©L'Osservatore Romano - 1 de Outubro de 2011)
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