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Na celebração da Santa Missa, estamos diante de duas mesas que guardam em si uma relação de unicidade: A Mesa da Palavra de Deus e a Mesa do Pão do Senhor. “A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo.”[1].
Na Mesa da Palavra Deus há um diálogo vivo e eficaz: Deus fala ao homem e o homem escuta. Não podemos diminuir ou limitar a voz de Deus quando a sua Palavra é proclamada na Missa, pois quando Deus fala, Ele expressa o seu amor, dá a salvação ao homem e o instrui para a um caminho de felicidade plena. E quando o homem escuta, não deve ter uma postura de passividade e descompromisso, mas um deixar-se fecundar, compreendendo a Palavra por meio de uma resposta de vida e uma ação concreta.
Renova-se assim o gesto de Jesus Ressuscitado ao revelar-se em Emaús: explicou aos discípulos a Palavra, começando por Moisés e todos os profetas (Lc 24,27), fazendo arder os corações dos discípulos ao explicar as Sagradas Escrituras, “e, estando com eles à mesa, tomou o pão, abençoou, partiu e lhes deu” (Lc 24,30).
Na Mesa do Pão do Senhor, “se realiza o sacrifício que o próprio Cristo instituiu na Última Ceia”[2], no qual Ele oferece de si mesmo ao homem como verdadeiro cordeiro pascal, capaz de expiar os pecados do mundo inteiro.
O que nos resta é dar o culto que é devido a Deus: unir a oferta de Cristo a nossa oferta de vida. Na Mesa do Corpo de Cristo não somos passivos ao seu sacrifício, mas somos envolvidos por tão grande graça a ponto de fazer da nossa existência um ato oblativo de vida.
A LITURGIA DA PALAVRA
A Liturgia da Palavra é composta pelas leituras da Sagrada Escritura, homilia, profissão de fé e oração universal. Nas leituras, exceto aos domingos e solenidades, temos uma leitura do Antigo Testamento (exceto no Tempo Pascal ou Natal), um Salmo e o Evangelho. Nos domingos é disposta uma segunda leitura após o Salmo, que pertence ao Novo Testamento (cartas Paulinas, cartas de São João, Tiago, Judas). Essas leituras são escolhidas por meio da organização dos textos sagrados durante um ano, que chamamos de Ano Litúrgico (que são três: Ano A, Ano B e Ano C).
“Quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja, o próprio Deus fala ao seu povo, e Cristo, presente em sua Palavra (cf. SC, 7), anuncia o Evangelho. Por isso todos devem escutar com veneração as leituras da Palavra de Deus, elemento de máxima importância da Liturgia” (Instrução Geral ao Missal Romano, 9).
É muito importante dar a devida atenção à escuta da Palavra de Deus, para mergulhar mais profundamente no tempo litúrgico que estamos inseridos e também para nos prepararmos para a união com o Corpo Eucarístico de forma mais profunda e vivencial. Vale ressaltar a importância de escolher pessoas preparadas para proferir as leituras, irmãos que sejam capazes de bem desempenhá-las.
Primeira Leitura, Salmo e Evangelho
No Antigo Testamento, Deus revela o mistério do homem em sua criação, da sua queda no pecado original e da constante busca de Deus para o retorno do homem para uma Aliança. Assim, prefigurando a Antiga Aliança a nova e eterna Aliança concebida em Cristo, como Igreja somos convidados a compreender o caminho de eleição por parte de Deus a um povo escolhido. Nós, como Igreja, olhamos desde os primórdios a fidelidade e a providência divina.
“A economia do Antigo Testamento destinava-se, sobretudo, a preparar, a anunciar profeticamente e a significar com várias figuras o advento de Cristo, redentor universal, e do reino messiânico”[3]. Quando estivermos escutando a proclamação da leitura do Antigo Testamento, nós nos deparamos com o caráter pedagógico e revelador da verdade apresentada por Cristo.
Assim, estas leituras, apesar de serem representadas por figuras, “manifestam todo o conhecimento de Deus e do homem”[4], ou seja, “apesar de conterem também imperfeições e coisas relativas a um determinado tempo, revelam, contudo, uma verdadeira pedagogia divina”[5].
Os Salmos são cânticos de louvor, “poemas orantes que exercem decisiva e fundamental importância para a experiência da fé e do culto do povo eleito”[6]. Neles podemos na Celebração Eucarística responder à primeira leitura na própria oração de Cristo, expressando alegrias, esperanças e louvores da Assembleia Litúrgica[7].
Nos dias de domingo ou nas solenidades da Igreja, temos a segunda leitura que é tirada das epístolas, seja das Cartas de São Paulo, de São João e de São Tiago. Nelas mergulhamos nos ensinamentos e na vida de Cristo por meio da compreensão teológica destes apóstolos, que tão profundamente e por inspiração de Deus souberam transmitir a Palavra de Deus como fonte de Revelação divina.
Já no Evangelho, com o seu lugar de destaque, pois é o Nosso Senhor que com a sua vida, gestos e palavras, ensina ao homem o caminho da bem-aventurança, estamos diante do próprio Cristo. O Verbo se fez carne, estabeleceu o seu Reino na terra, foi crucificado, morto, ressuscitou e ascendeu aos céus.
A proclamação do Evangelho tem um lugar de destaque na Celebração Eucarística. Por isso o Evangelho deve ser aclamado pelos fiéis antes de ser proclamado. A Assembleia aclama o próprio Cristo que irá falar por meio do sacerdote (in personna Cristi).
Ademais, pode-se ter uma procissão com o Evangeliário, com um diácono ou com o sacerdote que irá proclamar o Evangelho, o qual representa o próprio Cristo que, em sua Palavra, passa no meio do seu povo. O sacerdote ou o diácono pode também incensar a Mesa da Palavra, representando toda a piedade e veneração que o Evangelho tem para a Igreja.
Homilia, profissão de fé e oração universal
A homilia é o momento em que o sacerdote ou o diácono, como um pai de família, reúne o povo de Deus para explicar e esclarecer as leituras da Missa. “É função da homilia atualizar a Palavra de Deus, fazendo a ligação da Palavra escutada nas leituras com a vida e a celebração. É importante que se procure mostrar a realização da Palavra de Deus na própria celebração da ceia do Senhor. (…) [A homilia deve ser] simples, clara, direta e adaptada, profundamente aderente ao ensinamento evangélico e fiel ao magistério da Igreja. Para isso é necessário que a homilia seja bem preparada, relativamente curta e procure prender a atenção dos fiéis” (CNBB, Animação da vida litúrgica no Brasil, doc. 43, n. 276-277).
“O símbolo ou profissão de fé na celebração da Missa tem por objetivo levar o povo a dar seu assentimento em resposta à Palavra de Deus ouvida nas leituras e na homilia, bem como recordar-lhe a regra da fé antes de iniciar a Celebração Eucarística”[8]. Professar a nossa fé, citando todos os seus pontos centrais, faz-nos sintetizar e sistematizar o conteúdo dogmático em uma resposta de palavra e de vida.
Assim, professamos a nossa fé e aderimos ao mistério de verdade que a Palavra de Deus em si traz. A adesão que nos é dada pela profissão de fé tem um caráter de unidade com a Igreja do mundo inteiro e de comunhão com a Palavra de Deus.
Com a Oração Universal se conclui a Liturgia da Palavra. “Na oração universal ou oração dos fiéis, exercendo a sua função sacerdotal, o povo suplica por todos os homens”[9]. Tudo o que foi vivenciado na Liturgia da Palavra é concluído por meio de uma oração, que é proferida pelos fiéis. O povo de Deus reza e suplica a Deus no uso do seu múnus sacerdotal. A Igreja orienta que deve-se rezar “pela Santa Igreja, pelos governantes, pelos que sofrem necessidades, por todos os homens e pela salvação do mundo todo”[10].
“O conhecimento, e o estudo da Palavra de Deus permitem-nos valorizar, celebrar e viver melhor a Eucaristia; também aqui se mostra em toda a sua verdade a conhecida asserção: ‘A ignorância da Escritura é a ignorância de Cristo’”[11]
Márcio André Barradas
Missionário da Comunidade Católica Shalom
Márcio André Barradas
Missionário da Comunidade Católica Shalom
[1] Constituição Dogmática Dei Verbum, 21.
[2] Instrução Geral ao Missal Romano, 79d.
[3] Dei Verbum, 15.
[4] Idem, 15.
[5] Pio XI, ASS 29.
[6] Santana, Fernando. A Liturgia das horas como memorial de Cristo e santificação do tempo, p. 14.
[7] Wagner. Pe. Leonardo. Eucaristia: Celebração do mistério eucarístico. p. 43.
[8] Instrução Geral ao Missal Romano, 43.
[9] Idem, 45.
[10] Constituição Sacrossanto Concílio, 53.
[11] Sacramentum Caritatis, 45.
[2] Instrução Geral ao Missal Romano, 79d.
[3] Dei Verbum, 15.
[4] Idem, 15.
[5] Pio XI, ASS 29.
[6] Santana, Fernando. A Liturgia das horas como memorial de Cristo e santificação do tempo, p. 14.
[7] Wagner. Pe. Leonardo. Eucaristia: Celebração do mistério eucarístico. p. 43.
[8] Instrução Geral ao Missal Romano, 43.
[9] Idem, 45.
[10] Constituição Sacrossanto Concílio, 53.
[11] Sacramentum Caritatis, 45.
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