sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Muitas crenças em busca de uma única verdade

O encontro de Assis na opinião de peregrinos de várias religiões


ASSIS, – Para os peregrinos de todas as confissões reunidas em Assis, Itália, neste 27 de outubro para o Dia de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e a Justiça no mundo, a conclusão é unânime: “Foi um evento histórico de enorme importância”.
Uma multidão começou a se reunir desde as primeiras horas de um dia úmido e frio diante da igreja de Santa Maria dos Anjos. Os policiais e os voluntários foram rigorosos na gestão do fluxo para que ninguém se queixasse da espera nem do cansaço.
O papa chegou às 10h30 entre aclamações uníssonas. Gritos de alegria se levantaram, inclusive o tão popular “Esta é a juventude do Papa”, da última Jornada Mundial da Juventude em Madri.
Junto com todos os líderes religiosos, o papa foi da porciúncula à praça da basílica de São Francisco.
Pessoas de toda nacionalidade e idade participavam do encontro. ZENIT recolheu impressões do evento começando pelos mais jovens.
A uma turma escolar de Latina perguntamos se chegaremos algum dia à paz no mundo. Três estudantes de quinze anos respondem: “Talvez dentro de uns cem anos...”. E uma colega observa que “sem Deus seria mais difícil, porque tudo dependeria dos homens”.
Encontramos depois um grupo de franceses da Normandia. “É um evento histórico que repete a mesma alegria de 25 anos atrás”, comenta um deles. “Achei muito emocionante o discurso do santo padre, quando ele falou de trabalhar pela paz, de criar uma comunidade. Esta é a esperança da religião”.
Entre os peregrinos, muitos voluntários transformam o evento em apostolado. É o caso de uma senhora de Assis, que nos diz: “Eu me sinto envolvida, porque, além de ser útil para a comunidade, ainda vivo mais de perto este encontro com o papa”.
É possível fazer apostolado com quem não acredita em Deus ou tem um credo diferente? “Sim, com os valores da hospitalidade e da caridade”, prossegue a voluntária. “Temos que nos comportar como verdadeiros cristãos todos os dias, transmitir a importância de fé na cotidianidade. A fé não pode ficar só na teoria”.
O santo padre já chegou quando encontramos uma jovem turca coberta com seu chador: é uma estudante da Universidade Pontifícia Gregoriana. “Fomos todos criados por Deus. Somos todos importantes, prescindindo de religião e nacionalidade. Existem valores como a dignidade da pessoa e os direitos humanos que são fundamentais para vivermos em paz”.
Sobre a condição da mulher nos países de maioria muçulmana, a nossa interlocutora islâmica afirma que a questão “é um dos preconceitos mais comuns sobre o islã. Na teologia, eu não vejo nenhuma controvérsia”.
A porcentagem de crentes no Japão é muito baixa, especialmente entre os jovens. Mas “depois do trágico tsunami de 11 de março, muita gente descobriu a fé e a espiritualidade”. Quem nos conta é um jovem japonês, representando uma delegação xintoísta cujo líder estava na tribuna com o papa.
Entre a multidão se destaca o sári laranja de uma monja hindu, que nos diz: “Eu me sinto muito próxima de Bento XVI: a jornada de hoje foi um gesto belíssimo, uma mensagem de esperança e de paz. Entre as palavras maravilhosas que escutei, me chamou a atenção particularmente a ideia de um Deus que é amor. A palavra 'amor' une todos nós”.
Nossa monja concorda com o discurso de Acharya Shri Shrivatsa Goswami, representante da sua religião. “Apreciei as palavras dele”, acrescenta. “É necessária uma ética sadia na gestão da economia e na justa distribuição do trabalho, do dinheiro e dos recursos. As religiões têm que ser porta-vozes deste compromisso e a jornada de hoje foi mais um passo nesta direção. A sacralidade da vida também é um valor que qualquer fé religiosa compartilha”.

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